Já faz um tempo que vocês nos pedem para fazer um post sobre fanfictions (ou apenas fanfic) e finalmente consegui elaborar esse post com a ajuda da professora Karina Vieira.
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Eu entendia bem pouco de fanfic e, por isso, tive que fazer uma boa pesquisa sobre o tema. Por se tratar de uma prática social que nasceu nos fóruns e comunidades da internet, é bem recente e há poucos materiais teóricos (livros ou artigos) para nos ajudar a refletir sobre esse gênero e, principalmente, pensar em maneiras de levar essa prática tão característica das culturas juvenil e digital para a sala de aula. Mais encontrei alguns artigos e as reflexões que compartilho com vocês neste post são frutos dessas leituras.
Para quem nunca ouviu falar de fanfic, segue uma definição retirada do artigo Reflexões sobre a Apropriação Pedagógica do Gênero Digital Fanfiction para Práticas de Leitura e Escrita, das pesquisadoras Mila Costa e Jailma Campos.
fanfictions, ou simplesmente, fanfics ou fics “ficção criada por fãs”, que se caracterizam por escritos de contos e romances construídos por fãs de determinado filme, livro ou história. O fanfiction é um gênero digital relativamente novo que estimula a imaginação e a criatividade de seus criadores, bem como trabalha a produção escrita, uma vez que esses escritores constroem essas estórias de livre e espontânea vontade, por puro prazer em escrever e dar continuidade a seus romances favoritos. Além disso, é um gênero que desperta um lado interessante nos fãs dessas estórias, pois, de acordo com Padrão, os fãs e autores mudam seu papel de meros consumidores e receptores para autores da sua própria estória, pois na construção das fanfics, os ficwriters recriam, ampliam, mudam o foco, fazem paródia das estórias de acordo com seus gostos e interesses e compartilham seus escritos com pessoas que apresentam certo nível de proximidade e identificação com as histórias originais, daí ser um gênero extremamente relevante para as práticas de leitura e escrita e merecer atenção.
Como vocês podem ver, as autoras definem fanfic como um gênero digital e acho que aqui já precisamos fazer uma provocação, uma reflexão: fanfic é mesmo um gênero? Ao escrever uma fanfic, estamos escrevendo um texto com características e estruturas novas/próprias ou estamos escrevendo um conto/romance (ou até mesmo produzindo um vídeo) que é também um texto ficcional escrito por um(a) fã?
Não consegui encontrar uma resposta para essas perguntas. Acredito eu que a fanfic não seja exatamente um gênero, mas mais uma subdivisão dentro de outros gêneros. Por exemplo: não existe conto de suspense, conto de terror, conto social, conto popular, conto maravilhoso?! Então, agora também temos o conto (ou romance) fanfic. Essa é uma hipótese que eu levanto e, ao conversar com a professora Karina, vi que ela faz essa mesma análise. Como a classificação em torno do gênero ainda não está tão clara e definida, na proposta de produção de texto que eu elaborei (e que você poderá baixar no final deste post), a comanda pede que os alunos escrevam um texto narrativo de fanfic.
Ao estudar fanfic, uma coisa engraçada que aconteceu é que percebi que, mesmo sem saber exatamente do que se tratava, eu já trabalhava em minhas aulas várias propostas de elaboração de fanfic, sobretudo relacionadas à leitura de obras literárias. Acho que essas propostas, que pedem para que os alunos recontem uma parte da história ou se imaginem como um de seus personagens, são muito produtivas para que eles se engajem na leitura e também tenham uma compreensão mais profunda do enredo. Há propostas de elaboração de fanfic em vários posts que fiz sobre livros de literatura aqui no blog, mas destaco os posts dos livros abaixo:
Percy Jackson e os Olimpianos (neste post aqui, eu falo mais sobre fanfic!)
No artigo, as autoras também salientam o fato das fanfics serem resultados de processos de leitura e escrita que são expontâneos, acontecem por puro prazer, já que os fãs escolheram ler esses livros e também escolheram escrever sobre eles. Por causa disso, o trabalho com fanfic em sala de aula seria excelente para engajar os alunos e desenvolver uma autoria mais autônoma e real.
Nesse sentido, acentuamos a importância dos fanfictions no combate aos paradigmas escolares e na transformação nos modos de ensinar e aprender em Língua Portuguesa, pois sabemos que esse gênero constitui-se basicamente de leitura e, sobretudo, de produção escrita. Assim, ele abre espaço e possibilita que os alunos possam escrever, produzir textos que lhe agradem sobre diversos temas e, portanto, serem autores de suas próprias estórias.
Eu concordo que atividades de produção de fanfic realmente agradam mais aos estudantes e posso perceber o engajamento deles sempre que faço as atividades dos livros acima. No entanto, é preciso lembrar que sempre que transpomos uma prática social para a sala de aula, ela torna-se um pouco artificial, porque a produção desse texto é uma iniciativa do(a) professor(a) e os estudantes sabem que serão avaliados. Além disso, nem sempre será possível, mesmo com as fanfics, permitir que os alunos escrevam sobre temas/livros/séries de que eles já gostam, porque o sistema educacional, muitas vezes, nos obriga a padronizar temas e propostas até mesmo para nossa própria sobrevivência (rs) - por exemplo, se você permite que os alunos escolham a obra que será a inspiração de sua fanfic, como você fará uma correção padronizada e justa de textos com objetos tão diversos? E como será a correção de uma fanfic inspirada em uma obra que você, professor(a), desconhece? Embora eu tenha gostado bastante do artigo escrito por Costa e Campos, acho importante "desromantizar" um pouco algumas afirmações feitas por elas.
Tendo em vista todas as implicações do gênero fanfiction descritas para o aprendizado da Língua Portuguesa, consegue-se perceber o quanto esse gênero colabora com as práticas de leitura e escrita, pois permite que as estórias produzidas tenham leitores reais, que interagem e contribuem para a melhoria dos textos, assim como possibilita que esses leitores virem também autores de suas próprias estórias e, além de tudo isso, também é um gênero que promove uma grande rede de aprendizagem colaborativa e, portanto, apresenta-se como uma ferramenta extremamente útil no processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa.
Se você, assim como eu, não conhece muito bem esse gênero, recomendo a leitura desses dois artigos. Além disso, você também pode consultar o post que fizemos lá no instagram.
PROPOSTA DE PRODUÇÃO DE FANFIC
Há muitas maneiras de propor a elaboração de uma fanfic. Aqui compartilhamos uma proposta que retoma uma questão central desse tipo de texto que é o shippo ou o ato de shippar, ou seja, apoiar um casal/par, na maioria das vezes, para que desenvolvam um relacionamento amoroso (ou uma amizade). Essa proposta é adequada tanto para alunos do Ensino Fundamental 2 quanto do Ensino Médio. Mas, é claro, você pode e deve editar/alterar a proposta para que ela se adeque melhor aos seus alunos e ao propósito da sua aula.
Além disso, embora a nossa proposta peça a elaboração de um texto escrito, essa atividade também pode ser feita no formato de vídeo ou de podcast. Veja aqui um exemplo de fanfic em vídeo. Recomendamos também que, ao trabalhar essa proposta com seus alunos, você leia com eles alguma(s) fanfic(s). No site Spirit Fanfiction você irá encontrar uma infinidade de textos e é possível fazer buscas por gênero, tema, idade indicativa etc.
Por último, durante a escrita do texto, é essencial que haja um momento em que os alunos possam ler e comentar os textos produzidos por colegas. Como você verá nos artigos indicados, a fanfic é sempre resultado de um processo colaborativo de escrita já que, nos sites dedicados à divulgação desses textos, os leitores podem comentar e sugerir alterações nos textos publicados. Dessa forma, é importante que essa dinâmica de leitura e escrita compartilhadas seja reproduzida também na sala de aula.
Clique aqui para baixar a proposta de elaboração de fanfic.
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