Neste post, vou compartilhar com vocês algumas atividades que faço com meus alunos durante a leitura do livro Psicose, de Robert Block. Muita gente conhece o nome desse livro principalmente por causa do filme do diretor Alfred Hitchcock e da famosa cena da faca no banheiro - tenho certeza que você ouviu a trilha sonora (o famoso "tan tan tan tan") só de olhar para a foto-capa deste post.
Este é, portanto, um livro que dispensa apresentações - acho que eu já falei isso antes, sobre outro livro, mas não tem como, tive que repetir o clichê. No entanto, queria falar uma coisinha sobre essa história. O que mais gosto em Psicose é que ele já começa com o assassinato, é logo nos primeiros capítulos que Mary Crane é esfaqueada na famosa cena do chuveiro. Isso choca um pouco os alunos, eles ficam pensando: se ela já morreu, sobre o que vai ser esse livro agora? Bom, sobre muita coisa. É esse assassinato que dá início a uma história que é de suspense e uma investigação policial ao mesmo tempo, com uma pitada de terror psicológico.
O livro todo gira em torno do mistério: quem matou a senhorita Crane, Norman Bates ou a Mãe? Por isso, ao longo da leitura, eu gosto de fazer atividades que justamente chamem a atenção dos alunos para as pistas deixadas por esse criminoso - ou criminosa -, assim como as incoerências dessa história. Abaixo, eu compartilho com vocês um pouco do planejamento e das atividades que faço com minhas turmas do 8º ano. Ah, só pra deixar claro: este é sempre um dos livros preferidos dos alunos!
PRIMEIRA AULA
Duração: 1 aula de 45 minutos.
1. Sempre começo com a apresentação do autor. Acho muito importante dar visibilidade aos escritores, mostrar qual é a cara por trás daquele livro. Quando possível, também mostro alguma entrevista ou vídeo do escritor(a). Também aproveito para falar um pouco das inspiração por trás da obra.
Para escrever o livro Robert Bloch se inspirou na história de Edward Gein. Julgado em 1957 pela morte de uma jovem (embora acredita-se que ele tenha matado pelo menos duas mulheres), Ed passou o resto da vida em uma instituição mental. Edward foi criado pela mãe, Augusta, uma mulher religiosa e dominadora que desprezava o marido e acreditava que todas as mulheres (com exceção dela) eram prostitutas. Ed cresceu à sua sombra. Sem sair da fazenda onde morava, apenas para ir à escola, ele se tornou um rapaz tímido e solitário. Quando sua mãe sofreu um derrame, Ed cuidou dela. Após a morte da mãe, ele começou a roubar corpos no cemitério. Desmembrando-os, Ed utilizava a pele para fazer máscaras e revestimento de cadeiras, ossos e crânios como enfeites, e partes do corpo como acessórios de roupa e utensílios da casa. Ed se tornou referência na cultura popular. Dizem que ele serviu de inspiração para a criação de Norman Bates de Psicose, de Leatherface do filme O Massacre da Serra Elétrica, de Jame Gumb em O Silêncio dos Inocentes, e de Bloody Face da segunda temporada da série American Horror Story.
2. Depois, fazemos a leitura coletiva do capítulo 1 - cada aluno lê um trecho. Após a leitura, discutimos qual é o foco narrativo e o tipo de narrador da história. Eu chamo atenção para o fato de que o texto todo é narrado em 3ª pessoa, por um narrador onisciente, no entanto a perspectiva se altera a cada capítulo, como se esse narrador entrasse na cabeça de diversos personagens.
3. Por último, eu explico aos alunos - de maneira bem geral - o que é o Complexo de Édipo, porque é um conceito que aparece neste capítulo. Além disso, ele nos ajuda a entender essa relação doentia entre Norman e a Mãe.
Veja as Habilidades da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) trabalhadas nesta aula.
(EF69LP53) Ler em voz alta textos literários diversos (...) expressando a compreensão e interpretação do texto por meio de uma leitura ou fala expressiva e fluente, que respeite o ritmo, as pausas, as hesitações, a entonação indicados tanto pela pontuação quanto por outros recursos gráfico-editoriais, como negritos, itálicos, caixa-alta, ilustrações etc.
(EF69LP47) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero, (...), identificando o enredo e o foco narrativo e percebendo como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto e indireto), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo.
SEGUNDA AULA
Duração: 1 aula de 45 minutos.
Referente à leitura do capítulo 2 ao 4.
1. Eu sempre começo a aula com uma discussão sobre as páginas lidas. No geral, eu deixo a discussão bem livre para os alunos tecerem comentários sobre o que leram, se gostaram ou não, que sentimentos o livro despertou neles. Também costumo fazer algumas perguntas para retomar pontos centrais da história e garantir que eles foram compreendidos pelos alunos.
2. Nesta aula, nós estudamos as características do gênero. Robert Bloch é conhecido como o autor que fez com que se desbotasse a fronteira entre os gêneros policial e de terror e o objetivo da aula é refletir sobre isso. Então, proponho a seguinte atividade:
O que há de cada um desses gêneros literários nesta obra?
Identifique duas características/trechos/momentos/personagens que são típicos de histórias de investigação policial.
Identifique duas características/trechos/momentos/personagens que são típicos de histórias de terror.
Para fazer essa atividade, divido os alunos em grupos de 4-5 e eles devem identificar esses elementos. Depois, fazemos uma discussão com a sala e cada grupo compartilha as características que identificou.
Veja as Habilidades da BNCC trabalhadas nesta aula.
(EF89LP33) Ler, de forma autônoma, e compreender – selecionando procedimentos e estratégias de leitura adequados a diferentes objetivos e levando em conta características dos gêneros e suportes – romances, contos contemporâneos,(...) narrativas de suspense (...) dentre outros, expressando avaliação sobre o texto lido e estabelecendo preferências por gêneros, temas, autores.
TERCEIRA AULA
Duração: 2 aulas de 45 minutos cada.
Referente à leitura do capítulo 5 ao 9.
1. Como sempre, começo a aula com uma discussão sobre as páginas lidas. É importante retomar com os alunos a mudança da perspectiva sob a qual a história é narrada - é ela que nos permite acompanhar essa história de todos os ângulos.
2. Nesta aula, os alunos vão se coloca no lugar do delegado responsável pela investigação do desaparecimento de Mary Crane. Considerando toda a leitura realizada até o momento, os alunos devem escrever um relatório de investigação policial. Esta é uma atividade que pode ser feita individualmente ou em dupla. Veja, abaixo, a comanda da atividade:
Você é o(a) delegado(a) responsável pela investigação do desaparecimento de Mary Crane e deve escrever o relatório policial que incrimina uma das personagens do livro Psicose e a responsabiliza pela morte da Srta. Crane. Para isso, neste relatório, você deve:
Apresentar a vítima Mary Crane;
Fazer um breve resumo do caso; e
Apresentar três (3) acontecimentos e/ou características da personalidade da personagem que fazem dela a principal suspeita de ter cometido esse crime.
Veja as Habilidades da BNCC trabalhadas nesta aula.
(EF69LP46) Participar de práticas de compartilhamento de leitura/recepção de obras literárias/manifestações artísticas,(...) tecendo, quando possível, comentários de ordem estética e afetiva e justificando suas apreciações, escrevendo comentários e resenhas para jornais, blogs e redes sociais e utilizando formas de expressão das culturas juvenis, tais como, vlogs e podcasts culturais (literatura, cinema, teatro, música), playlists comentadas, fanfics, fanzines, e-zines, fanvídeos, fanclipes, posts em fanpages, trailer honesto, vídeo-minuto, dentre outras possibilidades de práticas de apreciação e de manifestação da cultura de fãs.
(EF69LP44) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.
QUARTA AULA
Duração: 1 aula de 45 minutos.
Referente à leitura do capítulo 10 a 13.
1. Como sempre, começo a aula com uma discussão sobre as páginas lidas.
2. Nesta aula, fazemos uma atividade com perguntas sobre o enredo e linguagem do livro. Ela pode ser feita individualmente ou em dupla.
Veja as Habilidades da BNCC trabalhadas nesta aula.
(EF69LP47) Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero, (...), identificando o enredo e o foco narrativo e percebendo como se estrutura a narrativa nos diferentes gêneros e os efeitos de sentido decorrentes do foco narrativo típico de cada gênero, da caracterização dos espaços físico e psicológico e dos tempos cronológico e psicológico, das diferentes vozes no texto (do narrador, de personagens em discurso direto e indireto), do uso de pontuação expressiva, palavras e expressões conotativas e processos figurativos e do uso de recursos linguístico-gramaticais próprios a cada gênero narrativo.
AULAS FINAIS
Duração: 5 aulas de 45 minutos cada.
Referente à toda leitura.
1. Esta é a discussão mais importante de toda a leitura, porque, finalmente, o mistério foi revelado. Os alunos costumam ter bastante dificuldade para entender os dois capítulos finais, então eu costumo retomar e discutir com eles os trechos mais importantes. Além disso, é essencial discutir o sentido do último capítulo - o que ele nos diz sobre o futuro de Norman Bates?
2. A avaliação final é uma resenha comparativa e há duas opções de realizá-la:
é possível assistir ao filme e pedir para os alunos fazerem uma resenha comparando livro e filme.
é possível assistir ao 1º episódio da série Bates Motel, inspirada no livro e pedir para os alunos fazerem uma resenha comparando livro e série.
A série Bates Motel estava disponível na Netflix, mas já saiu do catálogo, no entanto é possível encontrá-la para download. Um recado importante: a idade indicativa da série é 16 anos, pois é uma série bem pesada - eu assisti a 3 episódios da Primeira Temporada e não dei conta de continuar (embora alguns dos meus alunos tenham assistido à série toda rs), por isso recomendo passar para os alunos apenas 20 minutos do 1º episódio, esse trecho já é suficiente e já permite diversas análises e comparações.
O filme também é fácil de achar online. Ao contrário da série, o filme é bem tranquilo de assistir. Como foi gravado na década de 1960, período em que não havia muitos recursos tecnológicos, não há nada de assustador na obra. Na verdade, os alunos se divertem com o filme e dão muito risada da cena do chuveiro - que, no fundo, acaba sendo meio cômica mesmo, pois a faca passa longe de qualquer parte do corpo de Mary Crane.
Neste link, você consegue baixar a proposta dessa produção de texto, que já vem com a rubrica de correção.
Veja as Habilidades da BNCC trabalhadas nesta aula.
(EF69LP06) Produzir e publicar (...) textos de apresentação e apreciação de produção cultural – resenhas e outros próprios das formas de expressão das culturas juvenis, tais como vlogs e podcasts culturais, (...) como forma de compreender as condições de produção que envolvem a circulação desses textos e poder participar e vislumbrar possibilidades de participação nas práticas de linguagem do campo jornalístico e do campo midiático de forma ética e responsável, levando-se em consideração o contexto da Web 2.0, que amplia a possibilidade de circulação desses textos e “funde” os papéis de leitor e autor, de consumidor e produtor.
(EF69LP44) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visõesde mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.
(EF69LP46) Participar de práticas de compartilhamento de leitura/recepção de obras literárias/manifestações artísticas,(...) tecendo, quando possível, comentários de ordem estética e afetiva e justificando suas apreciações, escrevendo comentários e resenhas para jornais, blogs e redes sociais e utilizando formas de expressão das culturas juvenis, tais como, vlogs e podcasts culturais (literatura, cinema, teatro, música), playlists comentadas, fanfics, fanzines, e-zines, fanvídeos, fanclipes, posts em fanpages, trailer honesto, vídeo-minuto, dentre outras possibilidades de práticas de apreciação e de manifestação da cultura de fãs.
(EF89LP32) Analisar os efeitos de sentido decorrentes do uso de mecanismos de intertextualidade (referências, alusões, retomadas) entre os textos literários, entre esses textos literários e outras manifestações artísticas (cinema, teatro, artes visuais e midiáticas, música), quanto aos temas, personagens, estilos, autores etc.
Abaixo, seguem três artigos que fundamentaram o planejamento desta sequência de atividades e reflexões.
Na seção PARA LER NA ESCOLA, você vai sempre encontrar resenhas de livros literários (também conhecidos como paradidáticos) que são adequados para ler com os alunos do Ensino Fundamental 2. Também haverá sugestões de atividades, exercícios e temas que podem ser trabalhados com os alunos durante a leitura.
PSICOSE
Robert Bloch
Lançado em 2013, 240 p.
Editora Darkside
Psicose, o clássico de Robert Bloch, foi publicado originalmente em 1959, livremente inspirado no caso do assassino de Wisconsin, Ed Gein. O protagonista Norman Bates, assim como Gein, era um assassino solitário que vivia em uma localidade rural isolada, teve uma mãe dominadora, construiu um santuário para ela em um quarto e se vestia com roupas femininas. Em Psicose, Bloch antecipou e prenunciou a explosão do fenômeno serial killer do final dos anos 1980 e começo dos 1990. O livro, junto com o filme de Hitchcock, tornou-se um ícone do horror, inspirando um número sem fim de imitações inferiores, assim como a criação de Bloch, o esquizofrênico violento e travestido Bates, tornou-se um arquétipo do horror incorporado a cultura pop.
Indicado para: anos finais do Ensino Fundamental 2 e Ensino Médio.
Temas: feminicídio, investigação policial, suspense.
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