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Aline Câmara

Como elaborar uma avaliação diagnóstica de leitura?

Atualizado: 30 de mar. de 2022

Recentemente, eu li o livro "Ensinar a ler, aprender a avaliar" do professor e pesquisador Robson Santos de Carvalho (você pode ler a resenha desse livro aqui) e essa leitura me trouxe muitas reflexões sobre como trabalhar e avaliar o desenvolvimento da leitura dos meus alunos. Muitas ideias apresentadas no livro já eram praticadas por mim em sala de aula, mas de maneira intuitiva, porque há uma lacuna muito grande em relação a isso nos cursos de Licenciatura em Letras - como bem mostra o autor do livro. A verdade é que a gente não aprende a elaborar provas na faculdade; aprendemos isso na prática e também ao consultar materiais, como livros didáticos, e avaliações diagnósticas, como o SAEB.

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Eu já fazia uma avaliação diagnóstica de leitura no início do ano letivo, justamente para identificar as dificuldades e proficiências dos alunos. Além disso, a escola em que trabalho também realiza uma avaliação diagnóstica, aplicada por uma fundação especializada nisso, então eu já tinha contato com as habilidades de leitura e já usava o resultado dessas avaliações para guiar meu trabalho a cada ano. Mas, depois de ler o livro, decidi fazer uma avaliação de leitura, também diagnóstica, para pode identificar o progresso dos alunos ao longo do último semestre. Vou compartilhar com vocês como foi esse processo. Para acompanhar esse post, recomendo que acesse a Matriz de Referência do SAEB com as habilidades de leitura do 9º ano.


OS GÊNEROS

Achei que seria interessante trabalhar com gêneros diversos, já que algumas habilidades são específicas de cada gênero. Escolhi uma notícia, uma crônica e uma charge - pensando que seria interessante ter um texto que permitisse trabalhar a interpretação de imagens. Eu li vários textos (vários mesmos) e selecionei aqueles que me permitiriam trabalhar o maior número de habilidades (considerando as habilidades que trabalhei ao longo do semestre).


A TEMÁTICA

Também achei que seria bom escolher textos sobre um tema que fosse conhecido pelos estudantes, assim entender o tema não seria um problema extra e eu também garantia que todos tivessem um conhecimento prévio mínimo para conseguir fazer inferências e identificar implícitos, por isso escolhi textos que abordassem a temática da pandemia de alguma forma.


AS PERGUNTAS

Ao elaborar as perguntas, tentei abarcar o maior número de habilidades possível - algumas não foram possíveis de incluir, porém foram poucas que ficaram de fora. Além disso, dei prioridade para perguntas objetivas, pois essas me permitiriam analisar melhor o resultado final e o desempenho dos alunos, mas também fiz perguntas dissertativas, para exigir dos alunos essa capacidade de selecionar informações e organizá-las em uma resposta coerente (Isso é algo novo pra mim, porque eu costumo dar prioridade para perguntas dissertativas). Outra coisa importante foi variar o nível de dificuldade das perguntas (fácil, mediana e difícil), pensando que algumas habilidades tendem a ser mais fáceis (D1 - Localizar informações explícitas em um texto) enquanto outras são automaticamente mais difíceis (D4 - Inferir uma informação implícita em um texto).


Atualização: uma seguidora do meu perfil no instagram, fez um comentário sobre este post e achei que seria interessante trazer a discussão pra cá.

Na verdade, a classificação da dificuldade de uma pergunta só pode ser definida após a análise dos resultados da avaliação, dos erros e acertos, é o tipo de calibragem realizada por exames de seleção como o Enem. Aí temos um dilema: temos que fazer uma prova com perguntas que contemplem diversos níveis de dificuldade, porém só é possível saber o nível de dificuldade exato de cada pergunta depois que a prova é aplicada.

Por isso, queria deixar claro que eu fiz a classificação do nível de dificuldade das questões com base na minha experiência como docente e também com base na análise que o autor Robson Santos de Carvalho faz da dificuldade de cada habilidade de leitura. A questão é que essa dificuldade pode variar dependendo do gênero ou do tema do texto. Por isso, a classificação que eu fiz é apenas um norte para guiar meu trabalho (e também o seu), numa tentativa de abarcar todos níveis de dificuldade - e ela pode apresentar falhas. .

Nós, professores, temos que lidar diariamente com o dilema entre o que devemos fazer e o que podemos/conseguimos fazer. A calibragem da dificuldade das perguntas realizada por institutos que aplicam avaliações diagnósticas ou por exames e vestibulares é impossível de ser feita na nossa realidade diária de sala de aula, então temos que tentar adaptar isso ao que é possível fazer. Acredito que o livro "Ensinar a ler, aprender a avaliar" nos ajuda nesse sentido, pois discute o nível de dificuldade de cada habilidade e, partindo disso, estaremos contemplando níveis diferentes em uma mesma avaliação (mesmo que a classificação desse nível não seja 100% exata).



A PADRONIZAÇÃO DAS PERGUNTAS OBJETIVAS

Não sei você, mas eu acho muito difícil elaborar os distratores das perguntas objetivas, porque eles não podem ser totalmente absurdos (senão os alunos vão acertar a pergunta com facilidade) e também precisam seguir um padrão de escrita. Então, na hora de elaborar os distratores, tentei seguir os apontamentos que o autor fez no livro - você pode encontrar alguns deles neste post do meu instagram.


RESULTADOS

Por causa da avaliação diagnóstica realizada pela escola, e também com base na minha experiência, eu já imaginava em quais perguntas os alunos teriam mais dificuldade e o resultado foi mais ou menos o esperado.

As 5 perguntas com MAIOR porcentagem de respostas corretas foram estas abaixo. A pergunta 18 foi uma surpresa, era uma pergunta bem difícil e eu não esperava 100% de acertos, mas as outras, como podem ver, eram mais fáceis mesmo.

Estas são as 5 perguntas com MENOR porcentagem de respostas corretas, observe que realmente são perguntas mais difíceis.

Outra coisa que eu fiz foi comparar a nota dos alunos nesta avaliação com a nota na avaliação diagnóstica que eles fizeram no começo do semestre. Não é uma comparação 100% justa, porque a primeira diagnóstica não foi elaborada de maneira tão minuciosa como esta (eu selecionei exercícios de um livro didático que eu tinha), mas já foi suficiente para eu perceber a evolução de muitos alunos! Vários alunos que apresentavam dificuldade na hora de responder perguntas que cobravam habilidades mais difíceis (como fazer inferências e estabelecer relações entre partes do texto), superaram esse problema e conseguiram obter uma nota superior a 70%. É um resultado excelente, especialmente se considerarmos que todo esse aprendizado aconteceu durante a pandemia, com ensino remoto e, depois, ensino híbrido. Foi bem legal ter uma prova concreta da evolução dos alunos e eu, com certeza, farei mais uma avaliação como esta no final do ano.


Bom... mas o que fazer com tudo isso agora?!

Esses resultados vão guiar meu planejamento para o 2º semestre. As habilidades com melhor porcentagem de acertos são aquelas que os estudantes já dominam, por isso eu posso trabalhar menos em sala de aula. Já as habilidades com menor porcentagem de acertos devem ser meu foco nos próximos meses.


Mas algumas habilidades se repetem, e aí?

Neste caso, eu tenho que voltar às perguntas para tentar entender o motivo do desempenho dos alunos. Vejamos a habilidade D5 - Interpretar texto com auxílio de material gráfico diverso (propagandas, quadrinhos, foto etc) que apareceu em duas perguntas, na 9 e na 12. O que há de diferente entre elas? As duas exigiam a leitura de material gráfico, a pergunta 9 tinha uma charge e a 12 tinha um gráfico. Foi na pergunta 12 que os alunos tiveram um desempenho pior, ou seja, no próximo semestre, eu devo trabalhar a interpretação de gráficos e a relação gráfico-texto nas minhas aulas.


E como eu faço uma análise tão detalhada assim com todos meus alunos? Eles são muitos!

Sim, isso é um problema. Eu sei que minha realidade é uma exceção, pois trabalho em uma escola em que as turmas tem poucos alunos, mas existem maneiras de tornar esse tipo de análise mais viável em outras realidades. Primeiro, você não precisa fazer isso em todas as suas avaliações - pode escolher 1 ou 2 momentos do ano para analisar com mais profundidade o desempenho dos alunos. Segundo, você pode fazer isso por amostragem e escolher apenas uma turma para fazer esse levantamento do desempenho dos alunos. Com certeza essa amostra já vai facilitar (e muito!) o planejamento das suas aulas com base em habilidades que realmente precisam ser mais trabalhadas. Uma outra dica é conversar com o professor de matemática para ver se ele pode te ajudar a automatizar a correção, a soma dos pontos e a elaboração das porcentagens.

Clique nos links abaixo para baixar a avaliação e o gabarito.



Espero que eu tenha ajudado vocês a entender um pouco melhor esse processo de avaliar a leitura dos alunos!

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2 comentários

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2 commentaires


Robson Carvalho
Robson Carvalho
24 juin 2021

Parabéns, Aline!

Gostei muito do trabalho que você fez a partir da leitura do meu livro. Professoras assim me estimulam a compartilhar mais e mais nossas experiências. Sucesso!

Robson.

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Aline Câmara
Aline Câmara
24 juin 2021
En réponse à

Olá, professor Robson,

Fico muito feliz com seu comentário. Seu livro realmente foi bem esclarecedor e espero que juntos, ele e meu post, possam inspirar e ajudar outros professores. Seja bem-vindo ao blog :)

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