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Aline Câmara

Os advérbios na construção de sentido da música brasileira

Eu adoro usar música para trabalhar com adjuntos adnominais e adverbiais. Primeiro, porque você consegue trabalhar a gramática contextualizada. Segundo, porque você sempre consegue trabalhar outras questões de linguagem, como informalidade, variação linguística e figuras de linguagem. Terceiro, porque deixa a aula mais legal :)


Eu não sou nenhum pouco purista e uso música diversas nas minhas aulas. Já dei aula de adjunto adverbial com a música K.O. da Pabllo Vittar, por exemplo. Mas, trabalhar com essas músicas tem um problema: elas são datadas e se tornam obsoletas muito rápido. Se eu usar essa mesma música em uma aula em pleno 2020, os alunos não vão engajar na atividade, porque ela já não é mais ouvida pelos adolescentes. Então, ou você atualiza a sua lista de exercícios todo ano ou vai fazer uma aula chata com uma música que já não faz sentido para os alunos.


Por isso, é sempre bom ter uma carta na manga e investir em músicas atemporais, nas quais a gente encontra sentido e beleza apesar do tempo. Esse é um dos motivos que me levou a escolher a música Cotidiano, do Chico Buarque, para trabalhar adjuntos adverbiais. Outro motivo é que essa música é perfeita para trabalhar os adjuntos adverbiais de tempo, pois eles são essencias para construir o sentido da música - são os adjuntos adverbiais escolhidos pelo compositor, e a repetição deles, que criam a ideia de um cotidiano repetitivo e monótono.


Além dos adjuntos, eu também trabalho a linguagem figurada - o que significa boca de café ou boca de pavor - e também aproveito para problematizar um pouco nossa concepção de casal, a questão 3 entra nisso. Eu fico bem surpresa que, em todas as turmas em que trabalhei essa atividade, pelo menos um(a) aluno(a) disse que o eu-lírico pode ser tanto um homem quanto uma mulher, já que não encontramos no texto nenhuma marcação de gênero e um casal pode ser formado por duas mulheres. Em uma das turmas, uma aluna chamou atenção para o trecho "E essas coisas que diz toda mulher" e disse que provavelmente o eu-lírico é um homem, pois apenas um homem falaria algo assim (concorda?!). Como vocês viram, a música rende muitas análises e discussões.


A última questão é sobre o enredo da música - que tem duas camadas. A primeira é a história de um casal que já se encontra numa rotina maçante (provavelmente, infeliz), embora ambos não aguentem mais, a mulher ainda se esforça para manter a relação. Dependendo da turma, se eu achar que eles ainda são imaturos, eu paro a discussão por aqui. Mas, no geral, dá pra seguir para a segunda camada e discutir com eles um pouco sobre ditadura e censura - eu faço isso principalmente quando vejo que é uma turma que se interessa pelo assunto e já tem algum conhecimento prévio. Neste caso, é possível interpretar a música como um retrato (e uma crítica) da repressão vivida pelos brasileiros durante o período da Ditadura Militar.


Talvez você esteja se perguntando: mas alunos de 13 anos vão gostar de ouvir essa música?! Vão! Chico não é O Chico à toa. Por incrível que pareça, os alunos gostam muito de ouvir essa música, pedem pra colocar de novo, às vezes alguns até pedem pra eu colocar outros músicas do cantor.


Neste link aqui, você consegue baixar a atividade com a letra da música e as perguntas. Eu sempre passo o vídeo abaixo para os alunos antes de começar os exercícios.



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