10 mitos da tecnologia na educação [com oficina!]
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10 mitos da tecnologia na educação [com oficina!]

Há algumas semanas, eu e o professor Dawton Valentim (do perfil @dawton) fizemos uma live para discutir alguns mitos relacionados ao uso de tecnologia na sala de aula e, neste post, compartilho com vocês, um resumão do que discutimos.


Se você quiser assistir à live completa, basta clicar neste link.

No final do texto, você encontra uma OFICINA bem legal em que eu e Dawton damos algumas dicas de atividades utilizando o Padlet, Google Documentos e Google Planilhas.


1. SÓ PROFESSORES RECÉM-FORMADOS DOMINAM A TECNOLOGIA

Se a tecnologia já era associada, quase diretamente, às gerações mais recentes, reforçando o mito dos “nativos digitais”, o ensino remoto reforçou a sensação de que professores com mais tempo de sala de aula têm mais dificuldades para assimilar o uso de recursos digitais em sala de aula. Ideia essa que pode servir tanto de “escudo”, atrás do qual muitos profissionais se preservam de críticas e de receios, quanto de exclusão, de modo que professores experientes são mais pressionados a lidarem com aprendizados sempre de modo urgente.


2. QUANTO MAIS RECURSOS TECNOLÓGICOS EU USAR, MELHOR SERÁ A MINHA AULA.

O uso da tecnologia na sala de aula precisa ter propósito, ou seja, ela deve ser usada quando for significativa para o aprendizado dos estudantes. Por isso, não adianta simplesmente rechear sua aula de recursos tecnológicos se eles não estiverem alinhados ao conteúdo e às habilidades que você precisa trabalhar na sua aula.

Além disso, muitos recursos e plataformas têm funcionalidades semelhantes, então não faz muito sentido lotar sua aula com uma diversidade que, na verdade, é falsa.


3. TODO PROFESSOR JÁ SABE O BÁSICO EM TECNOLOGIA

Nós, enquanto sociedade, ainda relutamos em admitir completamente que o óbvio precisa ser dito e que o “básico” é relativo. O que é básico? Ligar um projetor é básico? Fazer slides é básico? Gravar e editar vídeo-aulas é básico? Em que régua se mede a complexidade dos aprendizados em tecnologia? A quem essa régua serve? Em um contexto em que se tem cobrado cada vez mais resultados e transformações do professor, é, no mínimo, improdutivo partir do princípio de que não há o que precisa ser ensinado, mesmo que seja a quem ensina.


4. TECNOLOGIA SÓ SERVE PARA DEIXAR A AULA MAIS DIVERTIDA.

A tecnologia pode sim ajudar a deixar a sua aula mais animada e engajar mais os alunos, mas este não é nem de longe o único objetivo para sua inserção na sala de aula.

Nossa aula precisa incluir o uso de recursos tecnológicos, porque estes fazem parte da nossa vida. Para ocupar espaços na sociedade hoje, é preciso dominar esses recursos bem como ser capaz de produzir os gêneros textuais que circulam no ambiente digital. Então, este deve ser o principal objetivo de levar tecnologia para sua aula: preparar seus alunos para consumir e produzir conteúdo, trabalhar, se divertir e viver em um mundo que está, cada vez, mais tecnológico.


5. PROFESSOR DIGITAL É AQUELE QUE VAI ALÉM DO SLIDE.

Mais do que ser um bom aplicador de metodologias ativas por meio de recursos digitais, o professor digital é aquele que compreende o processo de formação do que temos conhecido, recentemente, por cultura digital. Esse conjunto de práticas sociais e, por que não, de tradições, que configuram situações comunicativas, propósitos linguísticos e relações interpessoais e sociais. O professor digital, para muito além de ser capaz de construir slides atraentes, domina seu planejamento o suficiente para saber como a digitalidade pode efetivamente contribuir para o processo de formação de seus estudantes, de modo coerente com seu contexto escolar.


6. SÓ CONSEGUIREI LEVAR A CULTURA DIGITAL PRA DENTRO DA SALA DE AULA SE TODOS ALUNOS TIVEREM UM COMPUTADOR.

É claro que o fácil acesso aos recursos tecnológicos em sala de aula facilita muito o desenvolvimento de habilidades relacionadas a esses recursos e à cultura digital. No entanto, é possível sim produzir muita coisa mesmo que não tenham computadores disponíveis para você usar na sua aula.

Trabalhar tecnologia na sala de aula significa também recriar práticas de linguagem características da cultura digital, como: produções colaborativas, discussões em fóruns, criação de memes, curadoria de informações, interações on-line (como curtir, comentar etc). Essas práticas podem ser inseridas na sala de aula mesmo que não haja computador e internet. Por exemplo: você pode criar uma timeline de uma rede social na parede da sua sala (com cartolina ou outro papel), "postar" uma notícia e pedir que os alunos escrevam comentários dando a sua opinião (eles podem escrever em post-it ou em folhas de sulfite que serão coladas na timeline). Depois, os alunos podem receber corações cortados em papel e devem colá-los nos comentários que eles mais curtiram.

Além disso, boa parte dos alunos (mesmo da rede pública) possuem celular e esse aparelho, ao invés de ser odiado pela escola, pode ser incluído nas atividades planejadas por você.


7. CELULAR EM SALA DE AULA SÓ SERVE PARA DISTRAIR

Ainda me recordo das placas de proibição do uso de celular nas paredes da escola em que estudei. Sinalizações que, além de não desestimularem os alunos a utilizarem os aparelhos para fins não didáticos, acabam distanciando-os de qualquer diálogo a respeito de um uso mais produtivo. Por muito tempo (e talvez até hoje), a escola foi um espaço de medo das transformações sociais que insistiam (e insistem) em bater à porta do espaço em que passamos quase metade de nossa vida até os 18 anos. Na tentativa de preservar uma zona de conforto aparentemente segura e congelada nos anos 1950, a escola se torna, em muitos momentos, anacrônica e desinteressante para gerações cada vez mais multifuncionais, cada vez mais dinâmicas, cada vez mais digitais. E se, ao passo que distrai, o celular também possa formar? E se o celular tornar-se parte da rotina escola, guardados os devidos cuidados, de modo a integrar o estudante, em vez de dizer a ele, constantemente, o que não pode ser feito, o que não é produtivo, o que não é adequado?


8. MEUS ALUNOS SÃO NATIVOS DIGITAIS, ELES JÁ SABEM TUDO SOBRE CULTURA DIGITAL, INTERNET E TECNOLOGIA.

Sim, a maioria dos nossos alunos nasceram em um período em que celulares e computadores já eram acessíveis a boa parte da população e a maioria deles teve acesso a esses aparelhos ainda na infância. Mas ter acesso é diferente de saber usar - e saber usar não significa saber usar ativa e criticamente. Por isso, precisamos refletir sobre qual é o uso que as crianças e adolescentes têm feito da tecnologia. Eles sabem usá-las de maneira crítica? Eles sabem fazer pesquisas e selecionar informações confiáveis e relevantes? Eles sabem produzir os gêneros que circulam nas redes ou são apenas meros consumidores?

A maioria dos adolescentes usam o celular apenas para acessar redes sociais e conversar com colegas e não dominam a maioria das habilidades necessárias para se inserir e agir criticamente na cultura digital.


9. A TECNOLOGIA SÓ SERVE PARA MOMENTOS EXTREMOS, COMO A PANDEMIA.

Será? Será mesmo que, antes desse caos todo, a tecnologia já não estava em pauta e em uso? É comum ouvir professores expressando, como quem conta uma piada mesmo, seu intenso desejo de que tudo isso passe para poder voltar a lidar com uma escola analógica. O grande problema é que essa escola já não existia mesmo antes da pandemia e tem ainda menos chances de retornar depois dela. A tecnologia é importante para um planejamento escolar significativo, porque é estar conectado ao tempo, ao espaço e à cultura da comunidade escolar que o torna significativo. Nesse sentido, é possível dizer que a tecnologia não faz parte desse processo de construção?

Se não basta constatar a presença da tecnologia no cotidiano “fora da escola” para nos convencer de que ela não é mero efeito de uma situação extrema, que levantemos as possibilidades de facilitação metodológica, de melhoria do gerenciamento de dados, de aprimoramento de recursos avaliativos e uma outra série de contribuições que a digitalidade pode gerar para reforçar o ponto de que ela deve estar na escola, porque a escola está numa sociedade cada vez mais tecnológica.


10. ENSINAR OS ALUNOS A USAR OS RECURSOS DIGITAIS, COMO ESCREVER NO GOOGLE DOCS, É DEVER APENAS DOS PROFESSORES DE PORTUGUÊS.

Como já comentamos no mito número 8, os alunos não dominam todas as habilidades para se inserirem de verdade na cultura digital, por isso é dever da escola trabalhar essas habilidades e ensiná-los a usar aparelhos, recursos digitais, plataformas e aplicativos. E veja que eu disse que é dever da escola, como um todo. A tecnologia e as práticas características da cultura digital devem se fazer presentes nas aulas todas as disciplinas. Os professores e professoras de português não podem se responsabilizar sozinhos por essa mudança nas práticas escolares, afinal todas as disciplinas precisam ser trabalhadas considerando o contexto de vida dos alunos e a tecnologia, a internet e tudo que é virtual fazem parte desse contexto.


Esse post foi escrito em parceria com o professor Dawton Valentim.


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