Já faz um tempinho que não tem resenha por aqui, mas estou de volta. Hoje vou compartilhar com vocês um pouco do livro "Sortes de Villamor", escrito pela Nilma Lacerda e publicado pela Editora Scipione. A obra ficou em 3° lugar na categoria Literatura Juvenil do Prêmio Jabuti de 2012.
O livro narra uma história ambientada na São Salvador do final do século XVIII, começo do século XIX. Por isso, embora seja uma história ficcional, a obra também aborda questões da História do Brasil, principalmente a escravidão e a cultura afrobrasileira.
O livro é narrado por Caim, um jovem negro que nasceu livre e mora na casa de Ismê Catureba, uma negra alforriada que fundou essa casa para acolher outros negros que não tem onde morar, principalmente adolescentes e crianças. Ela é uma sacerdotisa do calundu e é conhecida na cidade por curar doenças, graças ao seu conhecimento sobre ervas, e também prever o futuro.
A história começa quando Branca, uma jovem francesa, é encontrada por Ismê na beira da praia e, então, é acolhida pela senhora. A família de Branca fazia parte da nobreza francesa (seu avô era Marquês) e decide vir para o Brasil para fugir da Revolução Francesa que ganhava força no país - e também fugir da forca. No entanto, antes de atracar em terras brasileiras, o navio em que a família estava naufraga e Branca é a única sobrevivente.
Ao longo da história, principalmente por meio de flashbacks, vamos conhecendo um pouco mais sobre a vida desses 3 personagens e sobre seus sonhos. Caim sonha em ir viver em um quilombo, para lutar pela liberdade de seus irmãos; enquanto Branca sonha em voltar para França. O conflito começa quando Ismê prevê que Branca vai assumir seu lugar tanto no cuidado da casa quanto nos rituais do calundu. A jovem, assustada, nega-se a aceitar esse destino.
Destino é uma das palavras-chave do livro. Aparece na capa como sortes. Destino realmente existe? Cada um de nós já tem um futuro traçado e definido ao nascer ou nosso destino é construído por nós mesmos e pelas escolhas que fazemos? Qual será a sorte de Branca: continuar no Brasil ou voltar para sua terra Natal? Essas são perguntas que ficam na cabeça do leitor e que só serão respondidas nos capítulos finais.
O trabalho com esse livro exige um pouco de conhecimento histórico, tanto que a própria autora incluiu um apêndice informativo em que aborda questões da história do Brasil, da França e também da cultura afrobrasileira. No entanto, achei a leitura do apêndice um pouco maçante e não recomendo que ela seja feita pelos alunos.
Para que os alunos entendam a parte histórica por trás da narrativa, recomendo atividades de pesquisa. Conforme avançamos na leitura, eu elaboro atividades em que os alunos precisam pesquisar algumas informações históricas, por exemplo, o que foi a Revolução Francesa e o que eram os quilombos. Também é possível que eles façam uma pesquisa sobre religiões de matriz africana, mas, como trabalho com 8º, achei mais adequado que eu mesma fizesse essa pesquisa e apresentasse para eles informações relevantes para a compreensão da história e dos rituais de calundu realizados pela personagem Ismê.
Outra aspecto interessante desse livro é que ele tenta retratar a língua portuguesa falada pelos habitantes do país naquele período. Por isso, encontramos nos livros um vocabulário mais formal e com palavras já não tão utilizadas atualmente. Esse aspecto pode se tornar uma dificuldade de leitura para os alunos, então também é importante que sejam realizadas atividades de análise linguística e interpretação de trechos específicos.
A leitura deste livro atender à Lei 11.645/2008 que torna obrigatória a inclusão da História e da Cultura Afro-brasileira e Indígena nos currículos das escolas brasileiras.
Compartilho com vocês alguns materiais que eu consultei para planejar as aulas desse livro, inclusive alguns artigos sobre o calundu.
Na seção PARA LER NA ESCOLA, você vai sempre encontrar resenhas de livros literários (também conhecidos como paradidáticos) que são adequados para ler com os alunos do Ensino Fundamental 2. Também haverá sugestões de atividades, exercícios e temas que podem ser trabalhados com os alunos durante a leitura.
SORTES DE VILLAMOR
Nilma Lacerda
Lançado em 2010, 175 p.
Editora Scipione
Não há como fugir ao destino, parecem-nos sussurrar as páginas deste belíssimo Sortes de Villamor, de Nilma Lacerda. Mas o destino quem o constrói somos nós mesmos, perseguindo sonhos e ideais - essa a lição que fica reverberando após conhecermos a história de Branca, uma francesa, descendente direta do Marquês de Villemaur, narrada por Caim de Node, um negro forro que mantém uma "banca de escrita" em Salvador, no começo do século XIX.
Dono de um estilo elegante, o narrador conta como, após um naufrágio, Branca é amparada por Ismê Catureba, que mantém uma "casa de acolhida, de cura e de predição", e como, ao se cruzarem, suas vidas se modificam para sempre. Branca acompanha de perto, mesmo às vezes sem compreender, o embate de Ismê para manter vivas as tradições africanas (o calundu, o saber dos ventos e das ervas). Ao mesmo tempo, Caim expõe suas dúvidas e desejos, até que, numa decisão surpreendente, larga tudo para lutar pela libertação de seu povo. E, longe da pátria, todos se esforçam na edificação de um novo país, esse, em que habitamos agora.
Indicado para: 8º e 9º anos e também 1º ano do Ensino Médio.
Temas: amadurecimento, cultural e religião afrobrasileira, escravidão, história do Brasil.
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