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Aos 7 e aos 40 [resenha e sugestões de atividades]

Atualizado: 23 de mai. de 2023

Eu já tinha lido o livro "Aos 7 e aos 40", do José Carrascoza, logo que foi lançado em 2013. Eu lembro que tinha gostado muito, achado a história bonita demais e a escrita do Carrascoza apenas incrível e muito poética. Na época eu emprestei o livro para alguém e, claro, nunca mais o vi de volta rs. Nem lembro mais para quem emprestei, o que é uma pena, porque era uma edição linda da falecidade Cosac Naify.


Felizmente, a Companhia das Letras relançou este livro e eu decidi comprar para reler, principalmente porque ele faz parte do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) da editora e está indicado para o 8º e 9º anos. Os comentários que vou compartilhar com vocês aqui estão baseados não apenas na minha leitura e análise do livro, mas também no material para o professor divulgado no site da Companhia.

Queria começar a análise do livro falando um pouco sobre a escrita e a linguagem. Neste livro, nós conhecemos a vida do narrador-protagonista em dois momentos: aos seus 7 anos (que contempla a sua infância) e aos 40 anos (com o protagonista na fase adulta). Essa diferença de fases está presente não apenas no enredo, mas na própria escrita. Essas duas fases se revezam ao longo do livro, em um capítulo temos a infância, no capítulo seguinte temos a vida adulta, e assim sucessivamente. Esse revezamento fica claro no nome dos capítulos, como você pode ver na imagem ao lado. Acho muito interessante o fato de que os capítulos constroem antíteses e expressam os sentimentos presentes em cada fase da vida do narrador.


O autor explora, neste livro, o diálogo entre a narrativa e os recursos gráficos, como consta nas páginas 4 e 5 do Manual do Professor divulgado pela editora.

Além disso, nesta obra, o autor explora ainda mais o diálogo entre narrativa e recursos gráficos, que é uma de suas marcas registradas. De acordo com o escritor, o trabalho com a diagramação do livro deve-se à influência do seu percurso na publicidade: “A gente vê o espaço da letra, a tipologia, a cor, tudo isso conta. [...] Acho que esses recursos dialogam com o que quero dizer” (carrascoza, 2015, p. 7).

Além disso, nos capítulos sobre a infância, narrados em 1ª pessoa, temos uma narrativa fluida e uma prosa mais reconhecível, com parágrafos longos e organizados, com pontuação, aquela escrita que normalmente esperamos de um romance. Já nos capítulos da vida adulta, a escrita é em versos, totalmente fragmentada, é mais poética e, ao mesmo tempo, mas melancólica. Ou seja, o livro é híbrido, pois mescla prosa e versos - vocês podem ver essa diferença nas imagens abaixo. Outra diferença é que esses capítulos são narrados em 3ª pessoa.


Os capítulos da vida adulta têm uma escrita bem diferente daquelas à que estamos acostumados - e os alunos também. Como indicado no Manual do professor, a obra propicia uma "uma experiência estética desafiadora, ao convidá-los (os alunos) a se movimentar por tempos e espaços diferentes e a compreender como forma e conteúdo se unem para representar as duas fases da vida do protagonista" (p. 6). Por isso, a leitura deste livro demanda um acompanhamento intenso do professor.


O trabalho do autor com a linguagem poética não para por aí. Ao longo de todo o texto, encontramos diversos momentos em que houve um trabalho espetacular e lindo demais com a linguagem e o que mais chamou minha atenção é o planejamento por trás do uso da linguagem poética, não são apenas "palavras bonitas jogadas ao acaso". Vou dar um exemplo. No capítulo Para Sempre, o narrador, sua esposa e seu filho estão em um terminal aguardando a chegada do ônibus que os levará para uma viagem a Foz do Iguaçu. Nesse trecho, a ideia do excesso e da escassez de água aparece a todo mundo, num jogo de palavras bonito de ver/ler - e difícil de analisar. Veja abaixo:



No primeiro trecho, vemos que está acontecendo uma chuva torrencial - cataratas caindo do céu. Mas, ao contrário das cataratas (do Iguaçu) que os personagens vão conhecer, esta causa desastres - só na cidade ou também na vida dos personagens? A chuva é quase um mal presságio de que a viagem não vai dar certo. Essa ideia é retomada duas páginas depois, no segundo trecho, em que os próprios personagens afirmam que a viagem foi um erro e aí vem uma antítese: o sonho secara. Qual sonho? O de conhecer as cataratas? O sonho da vida a dois? Veja a importância das escolhas lexicais e de enredo - a viagem às cataratas, a chuva torrencial, a seca. Só vai apreciar a leitura do livro aquele que for capaz de entender o significado de tudo isso.


São nesses momentos que os alunos precisam da mentoria do professor, porque a beleza do livro reside justamente nesses pequenos detalhes que podem passar despercebidos. Como professores, precisamos guiar o aluno pela leitura e abrir seus olhos para que eles vejam esses pequenos momentos de beleza e, assim, sejam tocados por eles.


Outra informação interessante sobre o livro é que ele está inserido no fenômeno chamado de crossover.

A leitura de Aos 7 e aos 40, por estudantes de 8º e 9º anos, justifica-se ainda pelo fato de a obra estar inserida no fenômeno da literatura crossover, cujo principal aspecto é o caráter dual da recepção, ou seja, destina-se simultaneamente a jovens e adultos. Ao diluir as fronteiras etárias, a obra de ficção crossover faz com que o adolescente consiga ir além da sua identidade psico- lógica e o adulto também não se sinta infantilizado na leitura. (Manual do Professor, p. 9)

Como já devem ter percebido, eu amei demais esse livro, com certeza é uma obra que pode e deve ser adotada como leitura nas escolas. Acho, inclusive, que também pode ser lido no Ensino Médio. A seguir, vejam algumas sugestões de atividades que podem ser feitas ao longo do livro. No Manual do Professor, divulgado no site da editora Companhia das Letras, há outras sugestões de análise e atividades. Vocês podem baixar o manual no link abaixo.

E fica aqui esta dica: a maioria das editoras faze manuais dos livros incluídos no PNLD, com informações sobre o autor, análise do livro e sugestões de atividade. Então deem uma fuçada nos sites das editoras.


ATIVIDADES QUE PODEM SER FEITAS EM SALA DE AULA

1. Análise da escrita do livro

A escolha do nome dos capítulos e da escrita de cada um deles em prosa ou verso é algo que precisa ser analisado com os alunos.


2. Análise da linguagem poética

É essencial pegar trechos como o de cima (sobre as cataratas e a chuva) e analisar com os alunos, pegando cada verso, cada expressão, cada palavra; para ajudá-los a construir os seus sentidos e entender a beleza da linguagem poética construída pelo autor.


3. Reescrita e atualização do início da história

Quando eu comecei a leitura do livro, na hora pensei nesta atividade. No começo do primeiro capítulo, o narrador nos conta a rotina da sua infância. Acho que seria muito legal pedir para os alunos reescreverem os 2-3 primeiros parágrafos atualizando para os dias de hoje. Como uma criança de 7 anos narraria um dia de sua vida hoje? Quais elementos se manteriam? Quais elementos precisariam ser atualizados para serem coerentes com a nossa vida em 2021?


4. Reflexão e identificação com o enredo

Há vários momentos da história com os quais os alunos podem se identificar: as tarefas de casa, o primeiro amor, a primeira perda, a relação com o pai. Mesmo quando a história é narrada pelo narrador já adulto, também pode haver identificação com o enredo - principalmente sob o ponto de vista do filho do narrador - e analisar esses momentos pode ajudar os alunos a se colocarem na pele dos seus pai, o que é um bom exercício de empatia.

Acho sempre interessante fazer atividades em que os alunos possam fazer conexões entre o livro e a vida real, seja com suas próprias vids (de maneira mais individualizada), seja com a sociedade e temas que estão em debate. São momentos em que os alunos podem falar sobre seus sentimentos, sobre como se sentiram ao ler aquela história: houve identificação? Houve aprendizagem? Houve o conhecimento de uma nova perspectiva? Eu falo um pouco sobre isso neste post aqui.


Espero que tenham gostado de mais esta resenha :)

 

Na seção PARA LER NA ESCOLA, você vai sempre encontrar resenhas de livros literários (também conhecidos como paradidáticos) que são adequados para ler com os alunos do Ensino Fundamental 2. Também haverá sugestões de atividades, exercícios e temas que podem ser trabalhados com os alunos e alunas durante a leitura.

 

AOS 7 E AOS 40

João Anzanello Carrascoza

Lançado em 2016, 112 p.

Editora Alfaguara


Um dos maiores contistas da atualidade brasileira faz um romance sobre o cotidiano de seu personagem em dois momentos diferentes da vida: aos sete e aos quarenta anos de idade. Na infância, a narrativa é fluida, poética e simples. O roubo de um pássaro no vizinho, uma partida de futebol, o quintal da casa e a relação com o irmão. Já aos quarenta, a narrativa passa a ter uma forma mais fragmentada, mais apropriada para lidar com os acontecimentos dolorosos da vida adulta. Um divórcio, o distanciamento do filho. Mesclando os dois momentos com extrema delicadeza, Carrascoza brinda o leitor com um belo romance que só reforça seu já conhecido talento literário.

Indicado para: 8º e 9º anos do Ensino Fundamental 2 (segundo PNLD da própria editora)

Temas: amadurecimento, conflitos da adolescência, relações familiares, perdas, sociedade.

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